Conheça a história de Maria Elisa, escrita pela família como se fosse contada por ela:
Oi, pessoal! Vou contar um pouquinho da história da minha mamãe para que vocês entendam o que eu significava para ela e para toda a nossa família.
Nossa família, os Oliveira Melo, era muito simples e tinha como patriarca o vovô Elias, um retireiro. A esposa dele, a vovó Maria, trabalhava como doméstica na sede da fazenda. Juntinhos, eles educaram os filhos com valores de fé, honestidade e resiliência.
No ano de 1992, aos 49 anos de idade, o vovô Elias teve um enfarte na frente dos meus tios e tias e faleceu. A vovó Maria se viu viúva aos 44 anos e, de herança, ficou com 6 filhos, com idades entre 9 e 22 anos. A mamãe contou que, na luta para continuar a vida, a família teve que se dividir para conseguir se manter. Só quando minha priminha, a primeira neta, nasceu, foi que a família voltou a se unir e, a cada chegada de uma criança, se fortalecia ainda mais. Em 2018, a vovó já tinha 5 netinhos e seus filhos estavam cada vez mais unidos. Imagine só todo mundo reunido! Deveria ser bom demais!
Chegou a parte que eu gosto demais, que é falar sobre a minha mamãe. Ouvi dizer que ela vivia em festas, cavalgadas, encontros com amigos, shows de rodeio, desfiles de bois e leilões de gado. Curtia muito a vida e era rodeada por amigos, com um sorriso largo e o melhor abraço do mundo, cativava todos ao seu redor. A tia Josy sempre brincava que a mamãe era onipresente. Ela estava sempre nas baladas, mas conseguia ir à casa de todos, nem que fosse por cinco minutinhos, para levar um bolo, uma fruta, chocolates e balas. Ela era um grande exemplo de persistência, perseverança e alegria. Trabalhava como engenheira civil em obras no Rio de Janeiro e em várias cidades de Minas. Nessa época, eu ainda não estava com ela, mas posso imaginar que ela era uma pessoa maravilhosa.
A titia falava que, em 2018, com a crise no setor de construção civil, a mamãe começou a trabalhar em uma empresa terceirizada da Vale. Sinceramente, eu não entendo muito bem desses assuntos de gente grande, mas o que eu soube é que o titio Lelis e a titia Josi já trabalhavam na mina da Vale há anos.
Sobre a história da mamãe comigo, ouvi dizer que foi assim: um dia, inesperadamente, a mamãe foi até a casa da titia Joana, que era a irmã confidente, e disse, bem assustada, que estava grávida. Imaginem o susto, já que a família era muito tradicional. Imagino que foi uma mistura de emoções naquele momento: alegria pelo fato de eu existir, e aflição porque a mamãe estava em um trabalho recente e engravidou de um relacionamento que não tinha a cumplicidade com meu papai. Essa parte eu não sei explicar muito bem, então prefiro deixar para quando eu for grande e entender essas coisas dos adultos. A titia Joana apenas nos abraçou bem forte com o jeitinho acolhedor de sempre. Juntas, choraram, e a titia viu ali a possibilidade de se realizar como “mãe-tia”, já que não poderia ter filhos.
Mamãe era tão querida que as titias Joana e Josi acompanharam com ternura os primeiros exames. O som do meu coração era tão rápido que até eu mesma me assustava. Parecia que algo estava errado; o doutor disse que a gravidez era de risco, já que a mamãe tinha 39 anos e diabetes gestacional. Foi assim que a vovó Maria soube que vinha mais um bebê na família. No mesmo dia, a vovó nos acolheu com um abraço bem gostoso e disse sorrindo: “Este bebê veio para acabar com sua vidinha de balada”.
Daí em diante, uma disputa saudável começou com os planejamentos do enxoval, o quartinho do bebê, o berço na casa da vovó Maria, da titia Joana, o chá de fraldas, tudo com decoração country.
No início de dezembro, a família toda foi acompanhar a ultrassom para saber se era menino ou menina... O médico do ultrassom assustou e falou: “Uai, o chá de revelação vai ser aqui?”. Todas as minhas tias, a vovó Maria, primos, todos ansiosos para ver e descobrir o sexo do bebê. O som do coração calou a todos e foi possível ver a minha mãozinha e um gesto que marcou a todos, um tchauzinho do bebê aqui.
A revelação de que eu era uma menina fez a mamãe chorar muito, mas entre risadas e brincadeiras, ela sorriu e disse: “Nada de rosa nesta menina, pelo amor de Deus...”. Ali mesmo, a revelação do nome foi feita; se fosse um menino, chamaria Elias para homenagear o vovô. Sendo mulher, a homenagem seria para a vovó Maria. Assim, temperada com um pouco do nome do pai, eu me tornei naquele instante Maria Elisa, o novo pacotinho de amor e esperança.
Há coisas que não dá para explicar. Acreditem, no Natal, mamãe escreveu tipo um diário agradecendo a Deus pela oportunidade de gerar um bebê e se realizar como mãe, e deixou escrito: “Maria Elisa, minha eterna companheira”.
No dia 20/01/2019, em uma cavalgada de São Sebastião, a última foto da mamãe foi tirada com destaque para a barriguinha que me aconchegava bem quentinha. Na foto, mamãe olhava para o céu como se pressentisse que seria a nossa nova morada. Acho que ela já sabia que nos tornaríamos estrelinhas...
Daqui do céu, eu vejo que passei rapidinho pela Terra para encher de amor e esperança e ser a eterna companheira da mamãe, até nos momentos mais difíceis. Teve um momento em que ouvi um barulho muito feio e, naquela hora, a mamãe me segurou tão forte que fiquei sem entender. Daí para frente, não consegui entender mais nada, não escutava nada.
Depois que virei estrelinha, soube que a nossa família se tornou bem mais triste sem a mamãe e eu. Havia muitas expectativas em torno do meu nascimento. Eu seria chamada de Maria Elisa Melo. Já sobre a mamãe, a tia Josy e a tia Joana sempre dizem que ela será sempre uma inspiração, pois se tornou um exemplo de garra, coragem, determinação, resiliência e amor.
Acredito que, apesar de tantas lembranças, nossa família que ficou encontrará serenidade e poderá sorrir com tudo o que viveram juntos e honrar, todos os dias, o exemplo irradiante deixado pela minha mamãe.
Sempre escuto daqui de cima sobre a saudade do que poderia ter sido e dos momentos que não foram vividos. O que a mamãe e eu tentamos passar em energia é que todos sigam olhando para o céu e nos vejam como lindas estrelinhas que os iluminam, e que, em algum momento, nos reencontraremos e voltaremos a nos abraçar com o amor e a ternura que é a marca da nossa família.