Notícias - Institucional“Sobre Tons em roda” promove conversa sobre igualdade racial e celebra cultura afro-brasileira com rodas de capoeira e de samba
Realizado no Pilotis da Procuradoria-Geral de Justiça, evento contou com a participação da primeira mestra de capoeira angola de Minas Gerais, Alcione Oliveira, do Grupo Candeia de Capoeira Angola e do grupo de samba rural Samba d'Ouro. Durante bate-papo, participantes destacaram a necessidade de o MPMG continuar “semeando” iniciativas antirracistas, de modo a cumprir sua missão constitucional
Em meio às torres da Procuradoria-Geral de Justiça de Minas Gerais, na tarde desta terça-feira, 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, uma roda de pessoas foi formada para discutir sobre a importância da luta pela igualdade racial e para celebrar a cultura e a arte afro-brasileira, durante o evento “Sobre Tons em Roda”. Compondo o círculo, estavam membros, servidores, terceirizados e estagiários do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e convidados.
O primeiro encontro cultural realizado pelo programa antirracista da instituição, o Sobre Tons, ocorreu no Pilotis da PGJ e contou com a participação da primeira mestra de capoeira angola de Minas Gerais, Alcione Oliveira, do Grupo Candeia de Capoeira Angola e do grupo de samba rural Samba d'Ouro. O evento foi promovido com o apoio da Plataforma Semente - projeto desenvolvido pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa do Meio Ambiente do MPMG em parceria com o Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais - e do Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.
Estiveram presentes a ouvidora do MPMG, Nádia Estela Ferreira Mateus; o coordenador de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação (CCRAD), promotor de Justiça Allender Barreto; o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Conflitos Agrários, procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda; e a presidenta do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, Makota Celinha.
Antes de abrir a roda de capoeira, a mestra Alcione agradeceu o convite e apresentou o grupo Candeia de Capoeira Angola. “Somos um grupo jovem de capoeira que busca trazer energia, espiritualidade, ancestralidade e resistência. Todos os ritmos da capoeira estão ligados à matriz africana”, expôs Alcione.
Após a apresentação do grupo Candeia de Capoeira Angola, Alcione recebeu da analista da CCRAD, Mariana Alves, uma placa em homenagem à sua trajetória de resistência e pioneirismo na capoeira.
Falando um pouco mais da sua história e dando início a roda de conversa, a homenageada da noite, mestra Alcione, ressaltou o foco do grupo Candeia de Capoeira Angola no feminino e reforçou o poder de resistência das mulheres neste meio. “A capoeira ainda é um espaço muito masculino, mas está mudando. Hoje existem mais mulheres mestras no Brasil. Mesmo com todas as dificuldades, hoje estamos colhendo os frutos. Somos a resistência.”
O capoeirista baiano Romeu Fumaça, que estava de passagem por Belo Horizonte e foi convidado pela mestra Alcione a participar da apresentação, falou um pouco do papel da arte na preservação da cultura afro-brasileira. “A capoeira e o samba, que são nossa arte, transformam a educação. Acho que a cultura afro-brasileira deveria estar em todas as escolas, trazendo a nossa identidade”, comentou Romeu.
Corporeidade
Em seguida, a promotora de Justiça Ana Gabriela Brito Melo Rocha falou da corporeidade da arte e da cultura africana. “Eu acredito que a gente perdeu bastante, na cultura ocidental, o saber do corpo, e essas manifestações são importantes para resgatar isso. A gente consegue integrar e transcender”, destacou a promotora.
O participante do grupo Samba d'Ouro Imani Katuezô também trouxe reflexões sobre a questão racial e social. “O envolvimento de corpo faz parte da cultura afrodiaspórica, e a gente aprende que a nossa oração é a própria ação. A gente vê que a sociedade cultua a ideia de que o que está em cima manda no que está embaixo, mas nós vivemos na circularidade, a gente se senta no chão. É a prática diária da humildade”.
O servidor Geraldo Dias Cyrino também participou da roda de conversa falando um pouco sobre o programa Sobre Tons e sobre a atuação do MP no combate ao racismo. “Eu achei fantástica a iniciativa de trazer essa discussão para a nossa casa. Achei muito legal aquele vídeo divulgado sobre o teste do pescoço”, comentou.
A servente de limpeza do MPMG Hilda Rodrigués, por sua vez, ressaltou que o programa ajuda a estimular as pessoas a falarem mais das questões raciais. “O Sobre Tons abre muito a mente. Temos que nos unir, abraçar a causa”.
A presidenta do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, Makota Celinha, elogiou o programa e falou da importância da data. “É muito bom ver essa casa dando espaço à diversidade, pois eu estou cansada de falar de racismo só para as pessoas pretas. Temos que diversificar a forma de falar e de trazer esse debate”. Ainda segundo Makota, "celebrar o 25 de julho é trazer à tona a resistência das mulheres negras que não tiveram direito de ter família”.
Iniciativa leve e democrática
A assistente de qualidade da instituição Stephanie Raissa também frisou a importância do programa para o MPMG e comentou sobre suas expectativas em relação à iniciativa. “O programa está plantando a sementinha antirracista de forma leve e democrática. Espero, sinceramente, que o programa sobreviva e resista”.
O coordenador da CCRAD, promotor de Justiça Allender Barreto, comentou sobre a força simbólica das apresentações do evento. “Toda a celebração que tivemos aqui tem importante força simbólica para o Ministério Público e reflete em sua prática institucional. Não é possível se desincumbir da missão constitucional do MP deixando de fora corpos, olhares, subjetividades e modos de fazer e celebrar que também nos constituem”.
Segundo o promotor, é fundamental que o MP tenha uma atuação reparatória sobre o problema. “Levar a sério a missão de promoção da cidadania passa por um olhar e uma ação reparatória. O programa Sobre Tons é um refazer do MP que promove um reencontro consigo mesmo”, enfatizou Allender.
O evento foi encerrado com uma apresentação de samba de roda do Samba d'Ouro, que tem como maior influência o samba rural. O grupo mineiro canta, de forma contagiante e ancestral, a realidade da roça, do vaqueiro, da boiada, dos encontros, da poesia do sertão com sua dureza e beleza.
Conscientização
O Sobre Tons foi lançado em 21 de março deste ano, Dia Internacional contra a Discriminação Racial, com o objetivo de sensibilizar os integrantes do MPMG em relação às pautas raciais. A iniciativa é resultado do entendimento sobre a importância de se ter a temática do racismo presente no dia a dia da instituição, nas mais diversas frentes de trabalho.
Desde o lançamento do programa, o MPMG divulga, quinzenalmente, conteúdos curtos e com linguagem acessível sobre o tema para promotores e procuradores de Justiça, servidores, colaboradores, estagiários.
O programa nasceu no âmbito do Grupo de Trabalho Antirracista do MPMG, formado por promotoras e promotores de Justiça, servidores, estagiários e colaboradores do MPMG, da capital e do interior, majoritariamente negros, que se reúnem, mensalmente, há mais de um ano, para debater a pauta racial na instituição.