Notícias - Direitos Humanos“Não queremos favor, queremos Justiça”, afirma Simone Diniz em evento do Sobre Tons no Palácio das Artes
Nesta terça-feira, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) promoveu, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado (FCS), na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes, o evento “Sobre Tons podcast apresenta: Histórias da luta contra o racismo”.
Na ocasião, convidados do podcast Sobre Tons participaram de uma roda de conversa a respeito das histórias abordadas nos quatro episódios do programa. Temas como banalização da violência contra o povo negro, racismo no futebol, leis de enfrentamento ao racismo, letramento racial e ações afirmativas foram centrais na discussão sobre os desafios enfrentados na luta contra o racismo no Brasil.
Entre os debatedores estavam: o coordenador de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG, promotor de Justiça Allender Barreto; o promotor de Justiça Evandro Ventura; o integrante do Observatório da Discriminação Racial no Futebol Luciano de Jesus; o ex-goleiro e escritor Mário Aranha; a empresária Simone Diniz, protagonista do episódio 2, e os advogados Sinvaldo Firmo e Zaira Pereira. A mediação foi feita pela jornalista Chris Antuña, da Assessoria de Comunicação Integrada do MPMG.
O promotor de Justiça Allender Barreto destacou, na abertura do evento, a necessidade de a sociedade permanecer vigilante sobre as contínuas ameaças de perdas de direitos, especialmente pelos grupos vulneráveis. De acordo com ele, a criação do programa institucional antirracista Sobre Tons pelo MPMG surge neste contexto de busca pela garantia e efetivação dos direitos conquistados pelo povo negro. “O racismo institucional é uma realidade. O enfrentamento a ele é uma questão civilizatória, não uma pauta identitária”, defendeu.
A advogada Zaira Pereira ressaltou a relevância da representatividade na luta pela equidade racial. “Ainda temos uma minoria de pessoas negras nos espaços de poder. Precisamos transformar isso, pensando sempre na base, na educação. Destaco também a necessidade de uma articulação de toda a sociedade, inclusive das pessoas brancas, para mudarmos esse cenário”, avaliou.
Simone Diniz, que há 27 anos foi impedida de concorrer a uma vaga de emprego por ser negra, levando o caso para a esfera internacional, lamentou a permanência, ainda hoje, de uma acentuada desigualdade de oportunidades para negros e brancos. “A igualdade só existe nas palavras, porque a realidade é outra. É como se a pessoa negra não tivesse fome, não sentisse dor, não tivesse sonhos. Queremos apenas nossos direitos respeitados. Não queremos favor, queremos justiça”, exigiu.
Na avaliação do advogado Sinvaldo Firmo, falta comprometimento do Estado brasileiro com a igualdade racial. Por isso, ações antirracistas desenvolvidas pelas instituições públicas precisam ser reconhecidas, apoiadas e replicadas. “Temos um longo caminho ainda para percorrer. Mas ver ações como essa do MPMG nos anima”, comentou.
Alto custo
O integrante do Observatório da Discriminação Racial no Futebol Luciano de Jesus lembrou que as conquistas obtidas por pessoas negras nas batalhas contra o racismo ocorrem sempre a troco de muito sofrimento. “Quem resolve tomar frente paga um custo muito alto, na carreira e em outros aspectos da vida. E geralmente é taxado como alguém problemático”, observou.
Por sua vez, o promotor de Justiça Evandro Ventura lembrou que, no Brasil, o fim da escravidão não significou o fim da segregação racial. “Para a nossa sociedade, é interessante o negro domesticado. O negro ativo e proativo, não”.
Evandro ainda defendeu a importância das ações afirmativas, como as cotas para pessoas negras, lembrando que elas consistem em uma “reparação social” pelos séculos de escravização do povo negro.
Por fim, o ex-goleiro Aranha comentou sobre os prejuízos que teve na carreira ao enfrentar o racismo e lamentou a desvalorização da cultura afro-brasileira em um país formado, majoritariamente, por negros. “A pessoa negra, para ser ‘civilizada’, precisa abrir mão da própria cultura e vestir a cultura europeia”, analisou.
Autor dos livros “Brasil Tumbeiro” e “José do Patrocínio”, Mário Aranha contou que foi depois de ler “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, que se encorajou para escrever seu primeiro livro. “Se naquelas condições difíceis, ela conseguia escrever, percebi que eu também poderia”, confidenciou.
A roda de conversa foi realizada com recursos do Fundo Especial do MPMG.
Podcast
O podcast Sobre Tons é produzido pela Assessoria de Comunicação e pela Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG. Em formato narrativo, ele traz casos emblemáticos da luta contra o racismo. Na sequência, convidados comentam sobre o tema abordado.
O primeiro episódio do podcast, lançado em 16 de outubro, conta a história de Katherine Dunham, uma bailarina americana que foi impedida de se hospedar em um hotel em São Paulo por ser negra. Esse caso histórico foi o estopim para a criação da Lei Afonso Arinos, a primeira lei contra o racismo do país. Os participantes desse episódio são o promotor de Justiça Allender Barreto e a advogada e professora Zaira Pereira.
No segundo episódio, lançado em 30 de outubro, tem destaque a história emblemática de Simone Diniz. Um caso de racismo vivido por ela, em 1997, levou o Brasil a ser responsabilizado, pela primeira vez, por uma corte internacional em um caso de discriminação racial. Os convidados desse episódio são a própria Simone e o advogado que a acompanhou no processo, Sinvaldo Firmo.
Já o terceiro episódio, lançado no dia 13 de novembro, abordou o racismo no futebol e destacou a história de Vini Jr., trazendo análises importantes sobre como o racismo impacta esse ambiente. Os comentários foram feitos pelo ex-goleiro Aranha, pelo promotor de Justiça Evandro Ventura da Silva e pelo integrante do Observatório da Discriminação Racial no Futebol Luciano Jorge de Jesus.
E o quarto episódio, lançado em 27 de novembro, recorda o caso trágico de João Alberto, morto em 2020 no estacionamento de uma loja Carrefour, em Porto Alegre. Os participantes foram o procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas e o promotor de Justiça do Rio Grande do Sul Leonardo Menin, que não puderam participar do evento.
Clique aqui para ouvir o podcast Sobre Tons.
Veja mais fotos do evento no álbum abaixo:
Ministério Público de Minas Gerais
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