Notícias - Direitos Humanos“Sobre Tons” inaugura, na CâmeraSete, exposições artísticas sobre espiritualidade e ancestralidade do povo afro-mineiro
Na abertura da mostra, a coordenadora de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG, Nádia Estela Ferreira Mateus, destacou a importância das parcerias firmadas pelo programa para a ampliação do debate público sobre igualdade racial. “O racismo é um desafio complexo e o seu enfrentamento requer criatividade, dinamismo e empenho de todas as partes”, pontuou.
Abrindo o calendário de ações do ano, o programa antirracista do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), “Sobre Tons”, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado (FCS), inaugurou na noite desta quarta-feira, 19 de fevereiro, duas exposições artísticas na CâmeraSete - A Casa de Fotografia de Minas Gerais. “O Som que Ressoa em Mim Foi meu Ancestral que Tocou” e “Olhares de Dentro: Patrimônio Afro-mineiro em Perspectiva” poderão ser visitadas de 20 de fevereiro a 22 de março.
A mostra explora a relação entre os corpos negros e o espaço mineiro, além de apresentar o seu vasto patrimônio cultural. A curadoria das obras é assinada pela museóloga Alinne Damasceno e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). A entrada é gratuita.
No espaço intitulado “O Som que Ressoa em Mim Foi meu Ancestral que Tocou”, o visitante pode apreciar uma seleção de obras que falam de um tempo não linear, convidando-o a reescrever histórias, vivenciar processos de cura e imaginar futuros possíveis. As produções abordam, também, a espiritualidade e a ancestralidade das pessoas pretas através do bordado e instalação, de Massuelen Cristina, de fotografias de Aziza Eduarda e Vitú de Souza, e de videoperformance de Suellen Sampaio, Virginia Dandara e Laiza Lamara.
Já no segundo espaço, que leva o nome “Olhares de Dentro: Patrimônio Afro-mineiro em Perspectiva”, o patrimônio afro-mineiro é apresentado para o público através de fotografias que exploram um olhar de dentro - momentos capturados por Matheus Soares, fotógrafo da Comunidade Quilombola de Faceira, localizado na Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha. Em seu trabalho, Soares expõe olhares multifacetados e atentos para as diversas expressões do patrimônio cultural negro de Minas Gerais.
Ampliação do debate
Na abertura da mostra, a coordenadora de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG, promotora de Justiça Nádia Estela Ferreira Mateus, destacou a importância das parcerias firmadas pelo programa para a ampliação do debate público sobre igualdade racial. “O Sobre Tons tem buscado alcançar públicos diversos, promovendo a conscientização e o diálogo sobre o tema em diferentes espaços sociais. O racismo é um desafio complexo e o seu enfrentamento requer criatividade, dinamismo e empenho de todas as partes”, pontuou.
De acordo com Nádia, iniciativas como a criação, pelo MPMG, da Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação (Ccrad) e de programas como o “Sobre Tons” demonstra que é possível enfrentar o problema de forma transversal. “Precisamos de todas as pessoas nessa luta. Cada um de nós pode contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária, seja denunciando atos de discriminação, seja promovendo o diálogo e a educação sobre o tema. Convoco a todos para a construção de um futuro livre de racismo e com dignidade para todos”.
Para o presidente da FCS, Sérgio Rodrigo Reis, a exposição é de extrema relevância, pois celebra a parceria firmada, no ano passado, com o MPMG e aborda uma temática necessária e urgente. "A partir de agora teremos essa pauta fazendo parte do nosso cotidiano. A intenção é que assim permaneça por muitos anos e que possamos contribuir para transformar a sociedade”, expôs.
Por sua vez, o presidente do Iepha-MG, João Paulo Martins, salientou que a arte também é política. “Esse momento é muito importante, especialmente, pela ocupação da CâmeraSete por corpos negros. Temos percebido uma presença cada vez maior dessas pessoas em espaços dos quais elas foram historicamente excluídas. Políticas públicas e parcerias como essa têm sido fundamentais neste processo”, observou.
Múltiplas ancestralidades
A artista visual Massuelen Cristina destacou a relevância de iniciativas que dão espaço a múltiplas vozes, como o Sobre Tons. “Temos muita história para contar. E, dentro desse processo, precisamos entender que existem diversas ancestralidades e diversas afro mineiridades. Essa diversidade tem que ter espaço, voz e vez. É muito importante a gente continuar fomentando esse processo e dando espaço a essas pessoas”, comentou.
Para o fotógrafo Matheus Soares, que cresceu em meio aos saberes tradicionais ancestrais do Jequitinhonha, a valorização do trabalho de artistas negros ajuda a combater o preconceito. “Levar a cultura afro mineira para meios diferentes é muito importante para que as pessoas quebrem o preconceito em relação a coisas que elas não conhecem, como as religiões de matriz africana, que há muitos anos sofrem com a intolerância e o preconceito”.
O fotógrafo Vitú de Souza avalia que as iniciativas de inclusão do povo afro mineiro nos espaços de poder são ainda tímidas. “A gente já deveria estar falando além de representatividade e de proporcionalidade, considerando que 51% da população brasileira é preta e parda. Os espaços de poder e a forma como se tutela o patrimônio e a cultura deveriam ter outra ótica, participativa, com base na cultura popular”, apontou.
Na opinião da fotógrafa Aziza Eduarda, iniciativas como o Sobre Tons contribuem para que o povo negro possa, por ele mesmo, apresentar as narrativas sobre suas trajetórias. A expositora frisa, ainda, a importância do protagonismo das pessoas pretas nos programas antirracistas. “É importante que eles sejam pensados por pessoas pretas, para pessoas pretas. Estruturalmente, o poder tem que estar nas mãos dessas pessoas. Não acredito que nossas necessidades possam ser ditas por outras formas, senão por nossas vozes”.
Novas perspectivas
Para a museóloga Alinne Damasceno, curadora das obras, reunir trabalhos de outras linguagens que não a fotografia é uma forma de tirar o público de um lugar confortável, reforçando o debate sobre a cultura negra e propiciando novas perspectivas. “Ao trazer uma exposição que conceitualmente aborda os corpos negros e o território mineiro, há tensões estruturais, pois estamos escolhendo para um espaço expositivo uma narrativa e uma história a ser recontada a partir do olhar negro. A CâmeraSete é uma galeria de fotografia, quis trazer outros suportes como bordados, instalações e videoperformance para dialogar com o espaço mas também provocar uma inquietação. É preciso estar aberto para que a potência da exposição possa atravessar todas as convicções sobre a temática, criando novos diálogos”, explica a curadora.
A abertura das exposições contou com a presença da mãe Efigênia, da vereadora de Belo Horizonte Juhlia Santos e de outros integrantes do Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango.
A exposição é viabilizada pelo Sobre Tons, com recursos do Fundo Especial do MPMG (Funemp), e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução.
A realização é do Ministério da Cultura, do Governo de Minas Gerais, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, do Iepha e da Fundação Clóvis Salgado.
Serviço
Período expositivo: 20/02/2025 a 22/03/2025
Horário: terça a sábado de 09h30 às 21h00
Local: CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais
(Avenida Afonso Pena, 737, Centro)
Classificação indicativa: Livre
Fotos: Júlia Mendonça
Ministério Público de Minas Gerais
Assessoria de Comunicação Integrada
Diretoria de Conteúdo Jornalístico
jornalismo@mpmg.mp.br